Organização é necessariamente algo bom? O “mais organizado” é necessariamente “melhor”? Vejamos: o crime organizado é melhor que o crime desorganizado? Parece que a resposta é… depende do ponto de vista.
Para os próprios criminosos, e do ponto de vista da competência na realização de crimes de grande estatura (grandes golpes ou gigantescos roubos por exemplo), sem dúvida o crime organizado é “melhor” que o desorganizado. Mas segundo os mesmos critérios (a maior dimensão ou porte do crime aliada à qualidade no sentido de competência em sua realização), o crime organizado é pior de um outro ponto de vista, que é o ponto de vista dos vitimados por esse crime.
O mesmo alto grau de “organização”, bom para uns ou para um ponto de vista, é ruim para outros ou para outro ponto de vista, porque realiza bem um objetivo que para estes últimos é ruim. Entretanto parece natural considerar que o alto grau de “organização” permite ou acompanha a melhor realização ou o melhor desenvolvimento de algo.
O que caminha da desorganização para a maior organização é algo que prospera, melhora, no sentido dos resultados ou consequências dessa oganização. A maior organização parece promover necessariamente algum tipo de melhor resultado ou consequência para algo assim organizado.
Em suma, o conceito de “organização” parece, de certo modo, algo assim como o conceito de “arte” no sentido de que, para que algo seja considerado efetivamente como “arte”, tem que ter um mínimo de qualidade enquanto arte, de modo que a “arte” de má qualidade, no limite da mais baixa qualidade que pode atingir, deixa de ser aceitável como “arte”.
Destarte faz parte do que se chama “arte” que essa “arte” seja boa, tenha boa qualidade — pelo menos em alguma medida. Do mesmo modo, analogamente, parece fazer parte do conceito de “organização” que ela seja bem organizada pelo menos em alguma medida, e o que é mal organizado, no limite de seu mais baixo nível de organização deixa de ser considerável como efetivamente “organizado”.
A grande questão que passamos a ser desafiados a enfrentar, a partir daqui, é a seguinte.
Já vimos que a organização precisa ser minimamente “boa” em algum sentido para poder ser considerada como “organização”. Mas vimos também que, sendo “boa” nesse sentido, não é necessariamente “boa” em outro sentido, para aqueles ou para aquilo que se prejudica com essa “boa” organização.
Então (aí vai o desafio!) será que não é possível que, além de “ruim” em um certo sentido ou de um certo ponto de vista, essa (em outro sentido) “boa” organização não pode chegar inclusive a simplesmente deixar de ser “organizada”, deixar de ser reconhecível como “organização” quando examinada de um outro ângulo ou ponto de vista?