• *PROPOSTA DO BLOG*

    O Blog Quemdisse visa uma postagem inicial mais ágil, descompromissada e espontânea sobre meus pensamentos e assuntos de momento, para um powterior exame mais aprofundado na “euciclopédia” ProjetoQuem (enciclopédia filosófica e interdisciplinar online, de vocação crítica e social, informativa mas com posicionamentos).

Sobre a questão do absolutismo e do relativismo em moral

  sumário:

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A complacência humana em relação ao “bem” e ao “mal”:
uma primeira aproximação da questão

Surgiu numa conversa, numa situação em que para mim parecia sem sentido, meio que fora de contexto, o seguinte: “complacência quer dizer o que?” — e a questão era saber se complacência era “uma coisa boa o ruim”.

“Boa ou ruim” — essa questão é interessante, porque trabalhei com meus alunos, como introdução à filosofia, uma porção de aspectos do pensamento mítico grego anterior ao aparecimento dela. E acontece que para aqueles gregos — povo que como a grande maioria dos outros da antiguidade tinha suas crenças sagradas (e também ao mesmo tempo seus valores morais, o que ? uma outra coisa não necessariamente conectada) quase sempre intimamente ligados ao pensamento mítico (que também não é sempre e necessariamente conectado a essas coisas, e quanto mais estudo o assunto mais acho , na contracorrente dos estudiosos, que o centro da coisa mítica na verdade está looooooonge do sagrado, e sim muito mais intimamente conectado ai quye se pode chamar de “arte folclórica”, de modo que a ligação com o sagrado é circunstancial e historicamente situada, e não necessária) — para esse povo grego antigo, enfim, não existia essa separação radical que as religiões mais conhecidas de hoje fazem entre coisas que são “do bem” e coisas que são “do mal”.

Isso não significa que esses gregos antigos eram “complacentes” em relação às coisas ruins.

Isso também não significa de modo nenhum que não fossem capazes de avaliar (racionalmente e inclusive emocionalmente) uma coisa como um “bem” e outra como um “mal”.

Menos ainda que não fossem capazes de entender o que a sociedade como um todo tendia a avaliar de um desses modos ou do outro (ou que não acompanhassem em si mesmos individualmente os sentimentos mais gerais, sentindo a maioria das coisas e principalmente as mais intensas do mesmo modo que o resto de sua comunidade).

Um indivíduo grego da antiguidade compreendia evidentemente muito bem (a bem da verdade talvez ainda mais do que nós, no atual individualismo capitalista competitivo) o signifificado e importância da convivência entre as pessoas e com a comunidade — independentemente e para além das divergências morais.

A única coisa que isso significa é que eram mais ponderados ao avaliarem o que é bom e o que é ruim, antes de tomarem em cada caso uma atitude menos ou mais complacente — aquela que considerassem a mais justa no caso.

Os gregos antigos eram “maus” por não separarem
de modo absoluto as noções de “bem” e de “mau”?

Não, os antigos gregos não separava radicalmente “bem” e “mal” do modo como se faz na maioria das religiões hoje dominantes.

E não, isso não tornava de maneira absolutamente nenhuma aquela gente necessariamente “má”. Nem mesmo segundo boa parte dos critérios morais das próprias religiões atuais. E não, isso não tornava aquelas sociedades um conjunto de sociedades psicopatas, ou aglomerados de sociopatas.
A não ser que queiramos avaliar tendencialmente e com má fé, com más intenções.
Ou sejamos uns completos imbecis mesmo.
Do tipo que xinga na rua uma atriz que faz a “vilã” em uma novela como se ela fosse “má” que nem o personagem, desse nível de imbecilidade para baixo.

Ou que sejamos ingênuos e manipulados por nossas emoções a ponto de fazermos péssimas, medíocres, superficiais e desumanas avaliações morais.
Do tipo daqueles que lincham até a morte uma mulher sexualmente agredida como se fosse culpa dela.
Ou do tipo dos fanáticos religiosos que na decadência da antiga democracia ateniense derrubaram a laicidade jurídica da cidade para usarem a acusação de ateísmo (verdadeira ou falsa) para condenarem à morte pensadores tão diferentes quanto o sofista Protágoras, Sócrates e o já velhinho e aposentado Demócrito — além de inúmeros outros intelectuais pelo crime hediondo de… usarem a inteligência!

Os gregos antigos apenas praticavam e sentiam os seus valores morais de maneira relativista. O que só veio a se desfazer mais tarde com o aumento da influência de Platão contra o relativismo — e a meu ver foi péssimo que se tenha desfeito, pois o absolutismo moral crescente contribuiu para o fanatismo generalizado do períodos final daquela democracia, e a tal ponto que acho que ela não teria resistido mesmo que os macedônios não tivessem invadido Atenas e imposto sua ordem política Imperial.

Para os gregos não havia divindades “do bem” e divindades “do mal” — mesmo que algumas raras, como curiosamente os dâimones (demônios) por exemplo, ou as nereidas, e se não me engano também Pã — fossem consideradas tão assustadoras quanto predominantemente BENÉFICAS.
As nereidas por exemplo eram consideradas entidades que nos traziam uma sabedoria tão gigantesca e maravilhosa e profunda sobre tudo no cosmos e em nós mesmos… que poderia nos enlouquecer e até nos matar se fôssemos mais fundo nisso do que era humanamente possível suportar.

 

O grande e poderoso Pã

Antes de qualquer coisa é preciso saber que o tal grande poder de Pã estava, antes e acima de tudo, em estar presente em todas as coisas, e muito mais em “suportar” qualquer sofrimento, já que tudo o que lhe ocorresse vinha direta ou indiretamente dele próprio, do que em qualquer coisa — a grande exceção é talvez a capacidade de Pã de “proteger”. É uma entidade protetora, acima de tudo.

Mas era uma divindade capaz também de (inclusive com essa finalidade de proteção) assustar, até mesmo apavorar. Era nesse sentido o deus do pânico — por exemplo gerando um súbito e incompreensível terror naquelas forças que se dispusessem de forma ameaçadora contra seus protegidos (em geral animais, mas também o povo mais pobre, os camponeses). Por outro lado acabava assustando inclusive a seus protegidos embora não lhes fizesse mal algum (por exemplo quando os acompanhava escondido e veloz pelas matas, enquanto viajavam). O farfalhar súbito de plantas com um vulto passando depressa era Pã, e sim, assustava os viajantes… mas apenas para em seguida comentarem, ainda com o coração palpitando de susto: “Estamos bem, o grande Pã nos acompanha e nos protege…!”

Entre os diversos deuses das antigas crenças sagradas dos gregos, esse (Pã) era de ascendência especialmente antiga, vinda de muitos e muitos outros povos anteriores aos gregos: o “grande Pã” ou “poderoso Pã”, como se costumava dizer — uma representação divinizada do conjunto de toda a natureza, deus protetor dos animais, das plantas e da animalidade humana, símbolo das forças vitais mais primitivas em nós  e nem por isso menos “humanas” (inclusive no sentido moral) — pois representava o conjunto dos nossos impulsos mais difíceis de controlar (em especial as reações de pânico, e acima de tudo quando súbitas e sem qualquer razão detectável por nós). Representava os pressentimentos (bons ou ruins) e o nosso lado mais intuitivo ou instintivo.

Mas representava acima de tudo o sacrifício da animalidade pelos seres humanos em sua autoconstrução como seres civilizados, e a própria animalidade sacrificada, e nem por isso superada ou vencida, mas sempre reprimida e lançada nas sombras, assinalada como fraqueza e foco de nossas dores e sofrimentos — era visto como um deus sofredor. Sempre apaixonado e sempre frustrado em suas paixões, porque considerado feio, embora aos olhos dos principais deuses do Olimpo (como o próprio Zeus por exemplo) parecesse represantá-los lindamente a todos. Era apadrinhado e protegido do deus Hermes, o deus da interpretação. E era um deus musical, flautista e dançarino, de grande agilidade e leveza em seus movimentos. Mas como já disse, considerado feio: meio bode meio gente e com pêlos vermelhos.

Entretanto era também um deus extremamente sexualizado e compreendido como uma espécie de potência divina do sexo e da fertilidade, um deus da potência sexual e de certo modo da sedução, apesar de sua feiúra. Seduzia com sua música e sua dança. Mas raramente conseguia que suas amadas firmassem relações com ele. é sempre desrito correndo atrás delas, com elas num momento seduzidas, e no momento seguinte fugindo de sua feiúra.

Pã era o deus sempre sucessivamente incompreendido, abandonado ou rejeitado e, digamos assim, “sacrificado”. Por isso uma espécie de símbolo da carência afetiva, ao mesmo tempo que da potência sexual e animal.Não é difícil imaginar de onde ver a sua associação (principalmente em versões marcadas pela influência cristã nas traduções) com o estupro — mas há uma certa parcialidade exagerada nisso (consideravelmente exagerada, eu diria), que transparece quando compreendemos o contexto geral das histórias de todos os deuses naquela mitologia ea história das traduções dos textos gregos originais. As lendas originais o mostram muito frequentemente solitário. ao invés de viver entre os demais deuses e inspirando os grandes heróis guerreiros da aristocracia, Pã preferia ocultar-se nos bosques e cavernas, e viver próximo ao povo simples dos campos. De certa maneira, era um protetor para essa gente dos campos. Mas se assustavam com o farfalhar das folhas na mata quando ele passava veloz e curioso, para ver o que faziam na mata.

Acho bom acentuar essa questão, acerca de quem era Pã… porque tenho sentido da parte de alunos o que me parece uma reação irracional ao fato de eu ter construído um personagem (um super-herói) para usar em videos, que criei baseado nos antigos deuses Hermes e Pã dos gregos.

E acontece que, como já disse, Pã era representado como meio gente e meio bode, com chifres encaracolados (as corniucópias, que eram aliás um símbolo benfazejo de fertilidade, riqueza, comida e fartura) e pêlo vermelho — imagem que parece causar um considerável desconforto em algumas cabeças cristãs eu diria que não muito amadurecidas. Cheguei a ouvir do fundo de uma sala de aula, uma vez, um comentário assim, em tom um tanto esquisito “deus Pã é aquele deus estuprador que o senhor gosta, né?” — ignorei e segui a aula adiante.

Como explicar pra um cara desses que os os mitos sobre os deuses na época, sendo carregados de elementos da vida da aristocracia guerreira, repetiam entre os deuses o estupro comumente praticado nas cidades invadidas, e que todos ou quase todos os deuses gregos praticavam isso, havendo enorme eufemismo dos tradutores ao falarem em “casamento” na maioria das relações entre os deuses?

Como explicar sem causar choque e celeuma em toda a sala, que essa coisa horrorosa era habitual na verdade nas lendas sobre todos os deuses do panteão grego (e de outros milhares de povos na antiguidade), coisa sempre “disfarçada” pelos tradutores exceto curiosamente quando se fala de Pã, por ser chifrudo e meio bode, e evocar certas fantasias cristãs desses mesmos tradutores… — o mesmo Pã marcado principalmente por amores frustrados (estupros não levados a cabo, ao contrário das lendas sobre outros deuses gregos, como até mesmo Zeus ou o belo Apolo!)… o mesmo Pã que, com a transformação de uma ninfa amada em caniços de bambú (sim, quando fugia dele, como frequentemente as amadas fugiam dos deuses), sentiu tamanha dor e sofrimento que fez do bambu flauta para acompanhá-lo por toda a vida cantando na forma de música sob o seu sopro! Como explicar essas coisas a um cara que resmunga do fundo da sala o que aquele resmungou, decerto apoiado num livro que sei bem qual é, publicado por uma conhecida editora cristã?

O mesmo Pã, segundo as lendas, salvou a Grécia da invasão dos Persas gerando pânico entre eles na Batalha de Maratona, para com isso garantir a futura democracia ateniense, segundo as interpretações gregas posteriores. Porque Pã era de todos os deuses, um dos que conviviam mais de perto com os “demos” de Atenas — e não, “demos” aqui não tem absolutamente nada a ver com “demônios” (palavra que aliás por sua vez também não representava para eles nada de ruim): “demos” significa “comunidades”, o “povo dos bairros”, a raia miúda, o povão. Dizia-se que Pã afugentava de pânico com sua voz assustadora os inimigos dos gregos, sempre que uma invasão desses inimigos parecia invencível para os guerreiros da aristocracia, e que começou a fazer isso na Batalha de Maratona — justamente aquela primeira em que o “povão”passou a ir para a guerra junto com os aristocratas.

Curiosamente, esse mesmo deus do pânico era considerado um deus… bem humorado, brincalhão, embora discreto e assustadiço, fugidio, ocultando-se pelas matas. Gostava de brincar, quase como um filhote de animal curioso. Mas quando se zangava com os que ameaçavam seus protegidos (fossem plantas, animais e humanos), sua figura e sua voz poderosíssima ganhavam uma dimensão aterrorizante. Protegia “assustando” ameaças. Mas era uma entidade tendencialmente benfazeja, ligada à música, à dança e a comportamentos similares ao de um filhote de animal.

De onde os gregos antigos tiraram a ideia de deus Pã com um deus dançarino, ágil, leve e brincalhão?

Mais fácil mostrar que dizer rsrsrs. Vejam este bode filhote do video:

Ou este outro:

Ou então este:

 

E por que “grande” e “poderoso”?

Ok, vejam esta luta de bodes montanheses selvagens, a elegância e magnanimidade com que medem suas forças:

E esses animais interessantíssimos — assim como as aranhas e morcegos — recebem hoje da parte de muita gente, por associação preconceituosa, toda uma pecha de símbolos do mau e do feio. Tal como o deus Pã associado a eles e por causa dessa associação. Porque o deus Pã é por sua vez associado àquela personificação caricatural do “mal” divulgada em velhos filmes de terror em que o cruxifixo aparece como arma contra essas coisas.

O preconceito não está na associação entre o animal e o antigo deus grego: está dirigido já antecipadamente ao próprio deus grego, que não é enxergado como era por aquele povo antigo. Porque na verdade já não é sequer enxergado. Mas de antemão combatido como símbolo de um “mal” absoluto que nem sequer seria compreendido por um grego da época — para o qual o deus Pã era impensável sem referência direta ao comportamento almesmo tempo saltitante, alegre, curioso, teimoso e imponente desse animal, cuja graciosidade contrasta tanto com seu corpo, que parece à primeira vista tão barrigudo e de pernas finas, de pescoço e cara compridas, em suma tão desengonçado (principalmente quando adulto, quero dizer). O bode é um animal que surpreende. E o deus Pã grego, um deus cheio de surpresas. correlação mais que evidente. E surpresas que no geral estão longe de serem “ruins”, mesmo quando espantam ou assustam… e até mesmo no pânico que é capaz de gerar, para espantar ameaças. No geral, pode-se dizer que Pã é uma espécie de deus do estranhamento.

Pôxa, professor, mas você é apaixonado por bodes e por esse deus Pã, heim?—

Kkkkkk… não: só acho interessante, e sou apaixonado pelo personagem que criei com base nele, em mais outras coisas e nesse magnífico animal, meu super-herói Professor Errante, que parece que está “causando” antes até de ter uma aventura publicada sequer!

Mas como explicar todas essas coisas a um cara que me lança lá do fundo da sala um “aquele deus estuprador que o senhor gosta”?!

Pior: como explicar tudo isso sem fazê-los começarem a achar que “acredito” em Pã, ou me acho possuído por ele ou qualquer outra baboseira do gênero — já que criei um personagem do tipo super-herói inspirado principalmente nele, e que eu mesmo faço como ator o personagem, para fotografá-lo e usá-lo em quadrinhos e filmes de animação do tipo motion-art (quadrinhos animados)? Muitos alunos já viram imagens desse meu personagem. Mas antes achavam ótimo rsrsrs. Até que comecei a sentir esse “clima”esquisito crescendo em torno da coisa.

Naquele caso do aluno, achei por bem ignorar a provocação e seguir em frente com a aula, porque precisávamos sair da mitologia e entrar logo nos primeiros filósofos.

Sim: fui complacente. Preferi ignorar, pelo bem da continuidade da aula.

Uma tomada de posicionamento
(ou melhor, um esclarecimento quanto a posicionamento
que venho cultivando desde sempre)

A a tal conversa de que falei no início deste artigo sobre “complacência”, enfim, terminou com a seguinte simplificação: “a gente é bom quando é complacente com coisas boas, e ruim quando é complacente com coisas ruins.” (alguém disse essa frase e ficou por isso mesmo) — E como eu estava achando aquele papo furado muito tolo (pra não dizer moralmente ruim mesmo, um tanto indecente) acabei sendo complacente e “deixando passar barato” essa coisa horrorosa por uma questão de simples saco cheio e esforço de objetividade , já que a conversa tinha um objetivo e era outro.

Pois vou dizer aqui o que penso pessoalmente a respeito: sou um relativista em matéria de moral. Convicto. E por isso mesmo não acredito que faça o menor sentido (e acho mesmo uma coisa bem ruim aliás, indecente, se querem saber) ficar julgando se uma pessoa é “boa” ou “ruim”. Devem-se julgar as ações e comportamentos — mais precisamente o sentido que as pessoas tentam dar a eles, ou o que tentam fazer deles… — e não as pessoas em si mesmas, porque só existe essa luta de construção de sentido. Não existe uma “verdadeira natureza” das pessoas a não ser na cabeça de gente tomada pelo sentimento de necessidade de “culpar” , de achar “bodes expiatórios” pras coisas. Alguma “natureza má” oculta e incorrigível, capaz de justificar o enquadramento como “bode expiatório”.

Uma pessoa é o que ela se faz deliberadamente ou não e o que fazem dela deliberadamente ou não. E só. Ela é a resultante desse jogo de forças. Nada mais.

Uma pessoa é um processo que vai se construindo com seus comportamentos e ações. Ela é a resultante do sentido que ela própria vai dando consciente e deliberadamente ao conjunto de suas ações com aquilo a que não consegue dar sentido porque lhe é imposto pelas forças que não consegue controlar em si mesma e pelas imposições e influências diretamente externas que, ora aceitando, ora não, vai de qualquer modo absorvendo e incorporando — mesmo que na forma de respostas ou reações a elas.

Uma pessoa é a somatória do sentido que tenta dar à sua própria existência com o sentido que dão a ela, e com forças diretamente externas ou já interiorizadas (quer ela queira ou não), já incorporadas nela — forças sobre as quais não consegue ter controle. A questão é o sentido que a existência da pessoa vai tomando, não o que ela “é” em alguma suposta natureza profunda.
Avaliaçoes morais deviam ser feitas, a meu ver, com base nisso. O resto não passa de indecente busca de bode expiatório, já o disse e repito

Do Pã grego ao “bode expiatório”
(ou do “bode expiatório” ao grego Pã)

Está aí aliás uma ligação mítica profunda entre o deus Pã grego e a história das religiões: a figura do antiquérrima bode expiatório, que assume essa figura na Grécia antiga. A representação do deus sacrificado. (Essa coisa cujo sentido moral mais amplo e profundo René Girard, contaminado por tacanha parcialidade cristã — completamente desnecessária para um bom praticante desta ou de qualquer outra fé, diga-se de passagem — não teve competência para compreender.)

(Girard, pelo tacanho e pelo parcial de sua visão dessas coisas, foi uma das grandes decepções entre minhas leituras dos últimos anos — assim como também o foram alguns outros autores menos famosos publicados por editoras contaminadas por parcialidade peligiosa.)

 

Como poderia ser uma ética relativista?

O que poderia ser afinal uma consistente ética relativista — capaz de sugerir algo de útil no combate ao fanatismo e numa busca de boa convivência laica entre as mais diferentes crenças?
Bom, Isso é coisa que tenho tentado formular filosoficamente faz tempo sob o nome de “ética do equilibrista”.

Mas professor… o senhor tem essa defesa dessa teoria ética e aposto que nem por isso é moralmente perfeito.
Claro que não! Alguém é?
Teoria nenhuma e religião nenhuma vai resolver os conflitos morais e lutas internas duma pessoa nessa área. E lastimo muito aqueles que acham que estão “resolvidos” nesse campo, aliás, porque são os piores no lidar com isso. Sentir-se em paz quanto aos conflitos internos é bom, se não deixamos de lutar pelo que achamos melhor em nós. Mas se sentir “resolvido” de uma vez e ignorar o processo complexo e mutante e multifacetado que somos… é PÉSSIMO. Essa panacéia salvadora não existe!
E é aliás bem mais perniciosa que benéfica nas lutas intestinas duma pessoa. Essa coisa de “salvação” serve no máximo como um paliativo capenga a ser superado mais adiante, ou como um estímulo na falta de outro melhor.
Mas paliativas ou não, meros estímulos ou não, teorias e religiões, quando se consegue trazê-las pro nível vivencial, sempre podem dar uma ajudinha, o que não se deve desprezar.
Enfim. Seguem os links para algumas das coisas que em certa época comecei a elaborar nessa direção (três artigos antigos que, no geral, continuo assinando em baixo):

Ética e Ceticismo na Política: uma questão

 

Ética e Ceticismo na Política: uma resposta?

 

Sobre os limites éticos da interpretação do comportamento alheio

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