Deus, a matéria e o jogo. Pascal costumava dizer, de deus, que para ele era uma aposta.
Seu erro maior foi concentrar a vida toda em uma só aposta, pois isso não a intensifica, a reduz e enfraquece em função do objeto da aposta, tornado tão intenso em si mesmo, que Pascal, em tais condições, passa a ter razão de confundi-lo com um objeto de “fé” (outro erro, ainda que tão razoável).
Ocorre que uma “fé” não é uma aposta. São sentimentos diversos. Só se aposta realmente naquilo que pode não ser, e que por isso mesmo nos dá o prazer de apostar, o prazer do desafio, de correr o risco do erro. A aposta é hedonista, é uma questão de prazer. E só se acredita realmente, naquilo em que a certeza é tão grande que já não existe uma aposta, que já não se vivencia como um jogo.
Ao contrário da crença, a aposta, em especial a aposta apaixonada, é algo muito valoroso. É um brincar com a própria vida. É uma força, e não uma fraqueza, porque intensifica nossa vida, nosso jogo da vida. Mas infelizmente, quem tem força para apostar em tudo o tempo todo? Para viver tudo como um jogo, e levar o jogo tão longe que joga até com a própria vida? No limite, onde se esmaecem a aposta apaixonada e o jogo, acabamos caindo nas crenças, e no jogo decaído, como uma futilidade à parte do que nos dá força à vida, como no máximo um “descanso”.
4/Nov./2012