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sobre vida após a morte (novembro de 2012)

Materialista ateu. E me perguntam sempre: não existe vida após a morte? Digo: existe sim! Quem morre é o corpo. E quem vive, perguntam, é a alma? Depende: o que você chama de alma? Algo imaterial e desapegado de corpo, me dizem. Ah, digo, neste caso então não, o que sobrevive ao corpo, a meu ver, não é nada como uma tal “alma”. Mas se não é desse corpo, então o que é afinal? Digo que é um jeito de corpo, um modo de agir do corpóreo… só que não é deste corpo, é de vários. Algo que se espalha deste corpo central que o pilota, para outros variados corpos. E que se descentra na morte, perde o piloto e o rumo.

 

É algo chamado memória, e que pode estar registrado em corpos inanimados — ou noutros corpos orgânicos, que são outros tantos centros, que tomam em seguida o controle, assim que falece o piloto. Mas podemos ser mais românticos, usar a linguagem das telenovelas: o que sobrevive do corpo, e que não passa a suportes inanimados, é a memória que deixamos no coração das pessoas.

 

Se a memória delas é viva, e estamos ali, relembrados, então esse algo de nós, esse algo chamado lembrança… está vivo. Ocorre porém que esse algo, essa imagem viva de nós, já existe nos outros com quem convivemos mesmo antes do nosso corpo estar morto. E mesmo vivos, já não temos completo controle dessas partes de nós espalhadas para além do nosso corpo.

 

Vivos mantemos a luta para darmos a todo esse nós espalhado o rumo que queremos dar-lhe, aquilo em que nos construímos. Mas será que temos tanto controle assim? Será tanto assim o que perdemos com a morte? Mortos, apenas deixamos de ter nosso controle ativo na luta… a luta somente permanece como rastro do que foi quando éramos vivos, no esforço dos que querem nos preservar viva a memória, ou como decorrência das formas materiais em que ficaram nossos registros inanimados. Os riscos de luz em forma de letras arremessados da internet em uma tela, por exemplo…

 

4/Nov.2012

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